segunda-feira, 28 de junho de 2010

Kinder's players



Por volta de 1996 meu hobby era colecionar bonecos em miniatura. A Kinder faturou milhões nas costas de minha pobre mãe.

Todos os tipos de bonecos, bichos e moveis em miniatura eram peças fundamentais para a minha brincadeira preferida, até pedaços de azulejos que achávamos eu e meus amigos nas calçadas. Com eles fazíamos banquinhos e mini-mesas para as casas das famílias que se formariam.

A brincadeira seguia sempre o mesmo esquema todos os dias. O plano era montar uma cidade em miniatura, com praças, casas e estradas e depois brincar com os bonequinhos. Mais ou menos o The Sims de hoje em dia.

Então vinha o Willian na minha porta “Ingrid! Ingrid! Vamos brincar de bonequinho?”

Saia eu de casa com uma sacola cheia de porcarias que eram peças fundamentais para as construções e uma caixa cheia de bonequinhos em miniatura. Meu parceiro já me aguardava na frente de casa na pracinha com seus carrinhos pequeninos que, dali meia hora, pertenceriam a personagens como um leão cozinheiro, um galo de smoking, um Snoop, um cachorro com guitarra, etc.

Passávamos tanto tempo construindo a cidade, traçando as estradas, montando as casas em lugares estratégicos para serem vizinhos das pessoas certas, definindo quem seria quem e quem faria o que, que quando terminávamos tudo, admirávamos por alguns segundos aquilo tudo pronto e bonitinho, um virava para o outro e então ele, ou eu falávamos:

“Não quero mais brincar de bonequinho, vamos jogar bola?”

Então juntávamos tudo na sacola largávamos no jardim da minha casa e corríamos com a bola na mão para a “cancha”.

Era assim sempre.

Acredito que muitas manias, costumes, e hábitos da infância influenciam na nossa vida de adulta. Os objetos podem mudar, mas a essência continua a mesma.

Nunca fui muito de brincar de boneca, ou de casinha. Eu gostava mesmo era de bolita, peão, bola, subir em arvores e brincar de super heróis e vilões, com cordas, espadas, armas e automóveis em alta velocidade (no caso o caminhão do pai do Jonny, que ficava estacionado na hora do almoço na frente de casa).

Mas voltando à minha reflexão, isto é algo que percebo cada vez mais, tanto na minha vida como na vida de outras pessoas.

Meninas que amavam brincar de boneca quando eram pequenas, viviam com uma embaixo do braço e quando cresceram perseguiram um sonho que chegava a ser compulsivo de ser mãe. Outras viviam brincando de casinha e quando cresceram trataram o namorado como filho, lavando e passando a roupa, fazendo o café, a janta na hora certa, escolhendo a roupa pro trabalho... algumas são melhores do que as próprias mães dos garotos.

Pois então, umas trocaram a boneca pela criança ranhenta e chorona, outras o fogão de brinquedo e o barro com grama na panelinha, por uma casa de verdade perfeitamente organizada... A essência continua a mesma.

Comigo acho que acontece a mesma coisa.

Vivo minha vida e meus relacionamentos sempre assim, a procura da perfeição. Ajeito aqui, ali, insisto até conseguir que as coisas estejam como eu gosto.

Então, eu olho tudo aquilo lindo e perfeito e perco totalmente a vontade de seguir em frente com a “brincadeira”.

Muitos podem dizer “a mulher é um ser eternamente insatisfeito”, mas eu prefiro argumentar apenas que a beleza maior está na imperfeição.

Hoje eu vejo que toda aquela história de “a felicidade não está no topo da montanha, mas sim no caminho que fazemos para chegar até lá” nada mais é do que curtir a imperfeição em cada detalhe, em cada momento.




P.S. Imperfeição e particularidade, porque o perfeito enjoa. =)