“Toda despedida é dor... Tão doce todavia, que eu te diria
boa noite até que amanhecesse o dia.” William Shakespeare
Os dias têm passado rápido demais.
Tenho colocado todas as coisas num papel e corrido atrás no
piloto automático, porque nem tempo para analisar e respirar tem me sobrado.
Mas hoje resolvi parar para refletir sobre meus sentimentos.
Por mais fácil que seja não pensar, não se vive só de razão.
Nunca fui boa com despedidas, porque isso implica em aceitar
afeto dos outros. Aceitar abraços. Aceitar palavras bonitas e declarações sinceras.
Aceitar lágrimas de tristeza e de saudades já antecipadas. Aceitar amor.
Tem sido um momento de grande aprendizado para mim. Um
aprendizado bom.
Para alguém que passou uma vida achando que estava sempre “incomodando”
com a própria presença, perceber o quanto se é benquista é lindo e ao mesmo
tempo assustador.
É difícil mudar todo um pensamento e aprender a lidar com
isso em apenas 13 dias.
Nunca me senti tão amada na minha vida. Talvez porque eu
nunca tenha conseguido perceber todo esse amor que sempre esteve presente. E
perceber isso tem sido realmente bom. Tem me feito muito feliz.
Sempre me senti meio peixe fora d’água nos meus grupos de
amizade. Mais parecia que eu estava assistindo as coisas acontecerem, do que
vivendo elas. Talvez por isso eu sentia como se as pessoas me “aturassem” ao invés
de sentir que elas realmente queriam minha presença.
Foi um esforço danado colocar na minha cabecinha oca que se
me convidavam era porque me queriam perto e que estar presente não incomodava os
outros, que minhas ideias e piadas não eram ruins ou enfadonhas. Foi um esforço enorme entender que sim eu sou legal.
Mas eu me esforcei e insisti. E o retorno que tenho tido tem
sido tão gratificante que só em pensar meus olhos enchem de água e eu fico
pensando “CARALHO SÓ TEM GENTE MARAVILHOSA NA MINHA VIDA!”
Acho que a melhor forma exemplificar o que sinto é dizer que
eu queria ser muito, muito rica para comprar bilhetes para as ilhas Maldivas,
num hotel All inclusive para todos os meus amigos. Porque Maldivas é minha ideia
de paraíso e quando estou com eles eu realmente me sinto no céu de tão feliz.
Outra coisa que também tem me marcado muito é a percepção de
que recomeços não acontecem somente depois que todas as coisas já se resolveram
e quando tudo está perfeitamente bem.
Ao longo da vida a gente vai desenvolvendo relações com
outras pessoas e algumas delas não dão muito certo.
Eu olhei para trás e percebi o quanto corri esse ano para
que tudo ficasse em paz, fiquei muito feliz pelas amizades que consegui
resgatar e me reaproximar, mas ainda sim, faltando 13 dias para um recomeço,
ainda há coisas por resolver.
Pessoas que me foram ou são tão importantes, tão distantes
de mim, pessoas que amo e amei seguindo seus caminhos com mágoas e tristezas
que eu, por mais que tenha vontade de amenizar e resolver já não posso mais. Essas
coisas precisam de tempo.
Só que não há mais tempo.
De um amigo de longa data eu fiz questão de me afastar por
perceber que ele não era mais meu amigo. As atitudes dele me faziam mais mal do
que bem e quando a gente se ama a gente não se permite ficar por perto de quem
não nos traz paz e coisas boas. Amizade é se importar, é cuidar e acima de tudo
é respeitar.
De um parente realmente próximo eu fiz a escolha de diminuir
uma dor que só aumentava através de um afastamento definitivo. Foram anos
amando, cuidando como eu podia e tentando ser o melhor exemplo possível para
que ele fosse a melhor pessoa do mundo. E me levou anos para perceber que as
escolhas dele independiam das minhas palavras, das minhas atitudes e das minhas
vontades. Tentei não me importar, fingi estar tudo bem, até o dia em que
percebi que fingir que algo está certo quando não está machuca muito mais do
que aceitar que as coisas não vão bem e seguir em frente.
A gente recebe o que transmite somente quando nos cercamos
de pessoas que transmitem o mesmo que nós.
Para essas pessoas eu percebi que talvez só o tempo as traga
para perto de mim novamente de uma forma boa e singela. Um tempo individual e
diferente do meu. Um tempo que não tenho sobrando para esperar.
Para uma amiga eu mandei mensagens, deixei claro meu apreço
apesar de tudo. Nossa amizade foi muito intensa desde o início, mas a
convivência, os anos e a forma como vemos o mundo foi mudando tanto ao longo
dos anos que nossos caminhos já não faziam mais bem quando trilhados juntos.
Mas não é porque uma amizade já não existe, que todo o
carinho e convivência que tivemos seriam apagados de mim. Eu sempre vou ser
grata pelas coisas boas e pelo aprendizado que as nem tão boas me trouxeram.
Com ela eu aprendi que certas coisas simplesmente são
melhores e mais agradáveis não resolvidas. Certas distancias fazem bem.
Não sei como ela reagiu a isso. Não espero resposta. Prefiro
pensar que minhas palavras deixaram o coração dela quentinho e que ela sente um
carinho grande por mim, apesar de tudo.
Com um amor eu insisti, mais do que deveria,
para que as coisas ficassem bem. Custei a entender e a aceitar que, assim como
eu fiz minhas escolhas e ele respeitou, eu também deveria respeitar a escolha
dele de querer se afastar.
Me faltou maturidade, eu admito. Eu coloquei ele num lugar
importante demais na minha vida, sem sequer perguntar se ele queria ocupar
aquele lugar. O lugar do apoio, do abraço quente, do ombro para chorar. Ele era
a primeira pessoa que eu queria contar quando algo bom acontecia e a primeira também
que eu queria que me ouvisse quando meu mundo desabava. Acostumei com aquele
humor parecido com o meu que me fazia rir no meio do choro, com aquele temperamento
na hora da briga que fingia que não estava nem aí, mas que depois me procurava com
sensatez e tudo ficava bem de novo. Acostumei a receber músicas que jamais
teria ouvido se não fossem enviadas por ele e a gostar de coisas que nunca me
chamaram atenção.
Me acostumei a receber carinho e atenção e quando isso tudo
acabou eu realmente não soube lidar de forma madura. Chorei como uma criança mimada
faz quando o seu brinquedo favorito quebra.
Talvez eu tenha sido mimada.
Talvez eu apenas tenha conhecido o que é um amor recíproco e bom depois de uma vida de amores egoístas.
Talvez eu tenha sido mimada.
Talvez eu apenas tenha conhecido o que é um amor recíproco e bom depois de uma vida de amores egoístas.
Aceitar que algo bom foi breve, quando se queria que fosse
duradouro é difícil. Dói bastante querer ter por perto alguém que quer estar longe e
por isso insisti tanto. Pedi, chorei, briguei, mas por fim, cedi.
Talvez um dia ele queira estar perto mesmo longe. Talvez ele nunca mais queira ouvir falar de mim. E tá tudo bem.
Cada um tem seu tempo e agora já não
depende mais de mim.
Aceitei sua escolha.
Aceitei que perdi.
E no fim das contas a dor da perda tem sido bem menor do que
a dor de bater, incansavelmente, numa porta que não abre.
A verdade é que certas coisas ainda ficarão mal resolvidas e para trás.
A vida não espera.
Minha vida atualmente tem sido um labirinto imenso e cheio de portas.
Tenho tido uma sorte gigante por ter pessoas abrindo portas para mim e me ajudando
a seguir meu caminho. Eu preciso insistir nas portas certas para encontrar a
saída. E o tempo é curto. Tudo parece muito confuso, mas ao mesmo tempo eu
nunca tive tanta certeza de que estou no caminho certo.
Amigos, para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de
dentro.
Amo vocês,
Ingrid Pitanga