sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Dor Doce...


“Toda despedida é dor... Tão doce todavia, que eu te diria boa noite até que amanhecesse o dia.” William Shakespeare

Os dias têm passado rápido demais.
Tenho colocado todas as coisas num papel e corrido atrás no piloto automático, porque nem tempo para analisar e respirar tem me sobrado.
Mas hoje resolvi parar para refletir sobre meus sentimentos.
Por mais fácil que seja não pensar, não se vive só de razão.

Nunca fui boa com despedidas, porque isso implica em aceitar afeto dos outros. Aceitar abraços. Aceitar palavras bonitas e declarações sinceras. Aceitar lágrimas de tristeza e de saudades já antecipadas. Aceitar amor.
Tem sido um momento de grande aprendizado para mim. Um aprendizado bom.
Para alguém que passou uma vida achando que estava sempre “incomodando” com a própria presença, perceber o quanto se é benquista é lindo e ao mesmo tempo assustador.
É difícil mudar todo um pensamento e aprender a lidar com isso em apenas 13 dias.
Nunca me senti tão amada na minha vida. Talvez porque eu nunca tenha conseguido perceber todo esse amor que sempre esteve presente. E perceber isso tem sido realmente bom. Tem me feito muito feliz.
Sempre me senti meio peixe fora d’água nos meus grupos de amizade. Mais parecia que eu estava assistindo as coisas acontecerem, do que vivendo elas. Talvez por isso eu sentia como se as pessoas me “aturassem” ao invés de sentir que elas realmente queriam minha presença.
Foi um esforço danado colocar na minha cabecinha oca que se me convidavam era porque me queriam perto e que estar presente não incomodava os outros, que minhas ideias e piadas não eram ruins ou enfadonhas. Foi um esforço enorme entender que sim eu sou legal.

Mas eu me esforcei e insisti. E o retorno que tenho tido tem sido tão gratificante que só em pensar meus olhos enchem de água e eu fico pensando “CARALHO SÓ TEM GENTE MARAVILHOSA NA MINHA VIDA!”
Acho que a melhor forma exemplificar o que sinto é dizer que eu queria ser muito, muito rica para comprar bilhetes para as ilhas Maldivas, num hotel All inclusive para todos os meus amigos. Porque Maldivas é minha ideia de paraíso e quando estou com eles eu realmente me sinto no céu de tão feliz.

Outra coisa que também tem me marcado muito é a percepção de que recomeços não acontecem somente depois que todas as coisas já se resolveram e quando tudo está perfeitamente bem.
Ao longo da vida a gente vai desenvolvendo relações com outras pessoas e algumas delas não dão muito certo.

Eu olhei para trás e percebi o quanto corri esse ano para que tudo ficasse em paz, fiquei muito feliz pelas amizades que consegui resgatar e me reaproximar, mas ainda sim, faltando 13 dias para um recomeço, ainda há coisas por resolver.
Pessoas que me foram ou são tão importantes, tão distantes de mim, pessoas que amo e amei seguindo seus caminhos com mágoas e tristezas que eu, por mais que tenha vontade de amenizar e resolver já não posso mais. Essas coisas precisam de tempo.
Só que não há mais tempo.

De um amigo de longa data eu fiz questão de me afastar por perceber que ele não era mais meu amigo. As atitudes dele me faziam mais mal do que bem e quando a gente se ama a gente não se permite ficar por perto de quem não nos traz paz e coisas boas. Amizade é se importar, é cuidar e acima de tudo é respeitar.

De um parente realmente próximo eu fiz a escolha de diminuir uma dor que só aumentava através de um afastamento definitivo. Foram anos amando, cuidando como eu podia e tentando ser o melhor exemplo possível para que ele fosse a melhor pessoa do mundo. E me levou anos para perceber que as escolhas dele independiam das minhas palavras, das minhas atitudes e das minhas vontades. Tentei não me importar, fingi estar tudo bem, até o dia em que percebi que fingir que algo está certo quando não está machuca muito mais do que aceitar que as coisas não vão bem e seguir em frente.
A gente recebe o que transmite somente quando nos cercamos de pessoas que transmitem o mesmo que nós.

Para essas pessoas eu percebi que talvez só o tempo as traga para perto de mim novamente de uma forma boa e singela. Um tempo individual e diferente do meu. Um tempo que não tenho sobrando para esperar.

Para uma amiga eu mandei mensagens, deixei claro meu apreço apesar de tudo. Nossa amizade foi muito intensa desde o início, mas a convivência, os anos e a forma como vemos o mundo foi mudando tanto ao longo dos anos que nossos caminhos já não faziam mais bem quando trilhados juntos.
Mas não é porque uma amizade já não existe, que todo o carinho e convivência que tivemos seriam apagados de mim. Eu sempre vou ser grata pelas coisas boas e pelo aprendizado que as nem tão boas me trouxeram.
Com ela eu aprendi que certas coisas simplesmente são melhores e mais agradáveis não resolvidas. Certas distancias fazem bem.
Não sei como ela reagiu a isso. Não espero resposta. Prefiro pensar que minhas palavras deixaram o coração dela quentinho e que ela sente um carinho grande por mim, apesar de tudo.

Com um amor eu insisti, mais do que deveria, para que as coisas ficassem bem. Custei a entender e a aceitar que, assim como eu fiz minhas escolhas e ele respeitou, eu também deveria respeitar a escolha dele de querer se afastar.
Me faltou maturidade, eu admito. Eu coloquei ele num lugar importante demais na minha vida, sem sequer perguntar se ele queria ocupar aquele lugar. O lugar do apoio, do abraço quente, do ombro para chorar. Ele era a primeira pessoa que eu queria contar quando algo bom acontecia e a primeira também que eu queria que me ouvisse quando meu mundo desabava. Acostumei com aquele humor parecido com o meu que me fazia rir no meio do choro, com aquele temperamento na hora da briga que fingia que não estava nem aí, mas que depois me procurava com sensatez e tudo ficava bem de novo. Acostumei a receber músicas que jamais teria ouvido se não fossem enviadas por ele e a gostar de coisas que nunca me chamaram atenção.
Me acostumei a receber carinho e atenção e quando isso tudo acabou eu realmente não soube lidar de forma madura. Chorei como uma criança mimada faz quando o seu brinquedo favorito quebra.
Talvez eu tenha sido mimada.
Talvez eu apenas tenha conhecido o que é um amor recíproco e bom depois de uma vida de amores egoístas.
Aceitar que algo bom foi breve, quando se queria que fosse duradouro é difícil. Dói bastante querer ter por perto alguém que quer estar longe e por isso insisti tanto. Pedi, chorei, briguei, mas por fim, cedi.
Talvez um dia ele queira estar perto mesmo longe. Talvez ele nunca mais queira ouvir falar de mim. E tá tudo bem.
Cada um tem seu tempo e agora já não depende mais de mim.
Aceitei sua escolha.
Aceitei que perdi.
E no fim das contas a dor da perda tem sido bem menor do que a dor de bater, incansavelmente, numa porta que não abre.

A verdade é que certas coisas ainda ficarão mal resolvidas e para trás.

A vida não espera.

Minha vida atualmente tem sido um labirinto imenso e cheio de portas. Tenho tido uma sorte gigante por ter pessoas abrindo portas para mim e me ajudando a seguir meu caminho. Eu preciso insistir nas portas certas para encontrar a saída. E o tempo é curto. Tudo parece muito confuso, mas ao mesmo tempo eu nunca tive tanta certeza de que estou no caminho certo.

Amigos, para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro.

Amo vocês,

Ingrid Pitanga



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Carta de Fernando à Ophélia...

Agradeço a sua carta. Ela trouxe-me pena e alívio ao mesmo tempo. Pena, porque estas coisas fazem sempre pena; alívio, porque, na verdade, a única solução é essa — o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amizade inalterável. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?
Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se atribuíssem.
O Tempo, que envelhece as faces e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. Se assim não fosse, não havia gente feliz no mundo. As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou.
Estas coisas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais coisas, que não são mais que partes da vida?
Na sua carta é injusta para comigo, mas compreendo e desculpo; decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com mágoa, mas, a maioria da gente — homens ou mulheres — escreveria, no seu caso, num tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha tem um feitio óptimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade. Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será sua a culpa.
Quanto a mim...
O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não esquecerei nunca — nunca, creia — nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe atribuo, fossem uma ilusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lhas atribuísse.
Não sei o que quer que lhe devolva — cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memória viva de um passado morto, como todos os passados; como alguma coisa de comovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos anos é par do progresso na infelicidade e na desilusão.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.

Um amor bom demais...


A gente passa a vida toda gostando de quem não gosta da gente. Levantando a bandeira de trouxa, a bandeira de “O não eu já tenho, agora vou atrás da humilhação”. Aceitando migalhas de amor dos outros por não achar que merece mais.
A gente vive morrendo de fome de amor e não nos damos conta disso.
Só quando a gente percebe o valor que temos, quando aprendemos a nos amar e a deixar só o que é bom ficar, é que a gente para de aceitar pessoas inconstantes, indiferentes e egoístas na nossa vida. Pessoas que só atenuam nossa ansiedade. 
Por que alguém que lhe deixa nervoso quando você pode ter alguém que lhe traz paz?!
Eu encontrei um amor, mas não amor qualquer. Um amor bom.
Um amor grande. Recíproco.
Um amor generoso, depois de uma vida (talvez) de amores egoístas.
Aquela torta grande e gostosa de chocolate, na hora exata da larica.
Um amor bom demais.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Sinfonia do Adeus...

[Ah, nunca mais, eu sei
Você não vai mais aparecer por aqui
Mas quero que você saiba, meu amor, te amo]

O que passou por nós que nos separou tanto?
É difícil entender como que num dia você é parte de tudo o que me faz feliz e no outro alguém totalmente à parte da minha vida.
Como pode pessoas decidirem sair da nossa vida de uma hora para outra e realmente sair, como se nunca tivessem entrado?!
E tudo o que foi construído? E todos os abraços? E todas as conversas? E todas as lembranças?
Lembro de quando fiz as contas e lhe disse que ainda teríamos mais 16 encontros antes do fim. Porque essa era a única coisa certa entre nós. O fim.
Lembro que doeu um cadinho pensar sobre isso. 16 parecia um número tão pequeno. Hoje cada semana é uma eternidade, e nossa, como me fazem falta aqueles 16 dias ao seu lado que a gente nunca viveu.
O fim que estava tão claro e tão bem determinado, por que precisava ser adiantado?!
Nosso adeus é tão definitivo e tão cruel porque sabemos que nunca mais nos veremos, nem mesmo por acaso, numa esquina, num bar, ou na fila do mercado. Por que então não podíamos aproveitar um ao outro enquanto ainda havia tempo?
Sempre que entro no banho lembro da primeira conversa que tivemos enquanto nos revezávamos para molhar os cabelos e enxaguar o corpo.
Fico pensando em todos os diálogos que poderíamos ter tido desde que paramos de nos ver. Como me dói pensar em todas as risadas, piadas, beijos, momentos e coisas lindas que podíamos ter vivido e que se perderam nessa fenda que criamos entre nós.
Aquele cantor estava certo, a maior saudade é a do abraço não dado e do eu te amo não dito.
Ainda lembro dos dias em que você me chamava de Sol, o seu sol. Me pergunto quando deixei de ser.
Hoje faz frio dentro de mim.
E a saudade tem doído de forma aguda e constante.