sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Querido Ex Amor...



Querido ex amor,
Concordo com você, é realmente uma pena não podermos comemorar mais um mês juntos. É uma pena não estarmos mais juntos. Eu também apreciei os teus sorrisos, nossas brincadeiras, tuas jantas, teus cuidados...
Enfim, apreciei e tenho saudades das coisas boas e muita. Mas eu não tenho saudade do nosso relacionamento como um todo.
Foi um tempo bom para eu conhecer bem o que tu se deixaste mostrar, para tu conhecer o que eu expus a ti, o que sentimos liberdade dentro do relacionamento para ser um para o outro sem medo. Também foi um bom tempo para ver nossas limitações.
E acredito que agora seja um momento para refletir sobre nossas ações para com o outro, para enxergar até onde foram nossos limites, cegos seja por raiva, por amor, ou por ciúmes. Até onde fomos longe demais, até onde fomos rasos demais. Onde poderíamos ter sido mais compreensivos, onde deveríamos ter sido menos coração mole. E, a partir de todo este raciocínio sobre nós mesmos, vamos nos conhecer melhor. Vamos nos aceitar melhor. E só então quando a gente souber exatamente quem a gente é, quando a gente amar quem a gente é, é que conseguiremos nos relacionar com o outro sem projeções, sem ilusões. Nunca vamos aceitar quem o outro é se não nos aceitarmos como somos.
É assim que tenho visto as coisas, e fico pensando o quanto eu preciso me conhecer e evoluir se eu quiser ter um relacionamento saudável e feliz.
Se há amor ainda, claro que há. Se é possível recomeçar agora, eu não sei. A única coisa que sei é que aquele relacionamento que tínhamos acabou e eu não quero ele de volta.
Se fôssemos recomeçar, teríamos que realmente recomeçar.
Precisaríamos deixar o passado lá atrás, seja o passado de anos, seja o passado de semanas. Precisaríamos não temer o outro, não temer o julgamento, não temer a opressão, não temer a rejeição, porque só assim se consegue ser transparente, leve e verdadeiro.
Precisaríamos confiar a ponto de tirar os limites um do outro e deixar que o outro através do respeito, da empatia, do autoconhecimento e do bom senso cerque seu próprio limite.
Precisaríamos aceitar que somos diferentes e que isso não nos faz donos da razão, nem da verdade e que cada um tem um ponto de vista do certo e do errado e isso não quer dizer que o outro não goste da gente por pensar diferente. Precisaríamos ter a empatia de ver o que deixa o outro feliz e comemorar junto, ser feliz junto, ao invés de temer que essa felicidade seja maior do que a felicidade que traz a nossa cia.
Precisaríamos aprender a ter menos ciúmes, menos inseguranças, menos egoísmo, menos possessividade.
Tu realmente achas que hoje tu conseguirias ser assim para mim, por mais amor que tenha dentro de ti?
Não adianta tirar férias, vestir roupas novas, ficar longe um dia, um mês, se não arrumarmos a casa. Porque quando voltarmos a casa vai estar lá, com os mesmos móveis velhos, nos mesmos lugares. Se tiver que dar certo a casa tem que estar vazia, e ser mobiliada só com o que é bom e o que era velho e ruim tem que estar bem longe de lá.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Quer Entrar?



Queria escolher as melhores palavras. Que fossem tão esclarecedoras quanto belas, assim como o sentimento que habita em mim.
Em resumo, estou apaixonada.
Mas não se engane ao pensar que é uma daquelas paixões comuns, que todos sentem ao menos uma vez na vida. Isso tá mais pra um sentimento geneticamente modificado, tipo aquele dinossauro do Jurassic World cheio de desenvoltura que ninguém entende direito como é que funciona tão bem.
Admito que nem eu mesma, que estou sentindo tudo isso, entendo bem. Só sei que é bom e que é diferente.
Desde o primeiro dia em que te vi meus olhos foram teus. Senti algo diferente de tudo o que já senti, talvez porque já sou diferente do que fui outrora, talvez porque sentimentos não possuem padrão.
De lá pra cá fui conhecendo aos poucos o que tu me mostravas e tudo foi me encantando.
Teu olhar dócil e cheio de empatia, posso ficar horas em silencio apenas olhando pra eles e me sentindo compreendida dentro do meu próprio mundo...
Teu jeitinho tímido e meigo que ao mesmo tempo é simpático e engraçado...
Tua forma de interpretar as coisas e enxergar o mundo...
Mas porque não falar isso ao vivo? Porque me é difícil demais.
Se te olho perco a fala. Não porque teu olhar me aprisiona, mas porque minha alma liberta. Esqueço o mundo, me tele transporto, e já nem sei se caminho ou flutuo ao teu lado.
Nosso silencio não constrange, é um silencio que acolhe. Tua respiração compassada com a minha num ritmo calmo e tranquilo faz cada órgão do meu corpo sorrir baixinho.
Te gosto de um jeito diferente. É uma paixão estranha, diferente de qualquer outra que já tive, pois é uma paixão que não aprisiona, é uma paixão que liberta.
Não sinto ciúmes, não sinto posse, nem vontade que os dias sejam mais curtos do que realmente são; porém a saudade já sabe teu nome e quando ela fala eu escuto a tua voz.
Sou muito feliz contigo, assim como sou muito feliz sozinha.
Gosto da tua companhia, mas também sou muito feliz quando tu não estás por perto. Pois assim como me alegra quando me acompanhas, me sinto leve ao pensar que tu também estás feliz em algum lugar distante de mim. Essa alegria me basta. Porque minha alegria é minha e a tua alegria é tua, enquanto elas pertencerem a nós mesmos seremos imensamente felizes. 
Penso que não há outro jeito mais certo de ser.
Minha única vontade é viver da forma mais bonita possível quando estou ao teu lado.

Mas as pessoas são tão bobas né? Elas nem sempre aprendem com os erros e tombos que levam. Elas insistem em conhecer alguém que encanta seus olhos e colocam esse alguém pra dentro do peito sem sequer perguntar ao outro se ele gostaria de entrar.
Comigo poderia não ser diferente, mas eu insisto em perguntar; quer entrar?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Chuva Fina de Verão...




Eu lia Odes de Ricardo Reis quando tu chegastes.
“Segue teu destino, rega tuas plantas, ama tuas rosas. O resto é a sombra de arvores alheias. A realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos. Só nós somos sempre iguais a nós próprios”
Fechei o livro cuidadosamente marcando a pagina para ler mais tarde e levantei meus olhos para te conhecer. Foi como ver o nascer do sol depois de uma noite fria na beira da praia, quando as garrafas já dormem vazias ao lado da fogueira apagada.
Não há sensação melhor do que a de ser iluminada por um sorriso, quando encontramos alguém com capacidade de fazê-lo. E depois de muitos anos à margem de mim mesma eu te conheci.
A paixão veio como naqueles contos que ninguém acredita, à primeira vista. Fiquei nervosa, minhas mãos tremiam e eu suava frio me perguntando “como pode o toque de alguém arrepiar minha pele”? Mas podia. E o fez.
É engraçado a certeza que nos consome quando estamos apaixonados. Por uns minutos, todos os dias, eu acreditava num pra sempre e ficava a mercê de um final feliz.
Isso é tão errado. Como alguém pode entrar na sua vida varrendo tudo e qualquer outra coisa que existia nela antes e depois ir embora, como se nunca tivesse entrado? Como que tu podes gostar tão profundamente de alguém e não ser recíproco?
Até onde nos deixamos levar pela paixão sem realmente enxergar o que de fato acontece ao nosso redor?
A paixão, não o amor (como muitos pensam), é que cega a gente. Ela invade nosso pensamento e faz com que cada som, cada olhar, cada cheiro te lembre alguém. E como faz quando esse alguém vai embora?
Hoje tu és chuva fina de verão, que cai constantemente durante toda a estação e toca a pele como se estivesse só no pensamento. Eu te sinto, mas não te vejo.  
E volto a regar minhas plantas e amar minhas rosas, enquanto tu és sombra de arvores alheias.
A realidade, por um breve tempo, foi bem mais do que eu quis, mas foi uma realidade feliz.