Sábado desses fui convidada por uma amiga para uma dessas festas
ditas como *TOP* de Porto Alegre.
Chegando lá vi o exato ambiente que deve ter idealizado a música
Pricetag. Uma fila enorme de gurias totalmente falsas: altura falsificada por
um salto 20, peitos falsos por silicone, bronzeados falsos, sorrisos falsos (não
só pelo seu surpreendente branqueamento, mas por sua essência).
Entrei na festa sozinha. A amiga que me convidou já havia entrado na
festa, pois era amiga de um desses semi-super-heróis que conseguem free e entram
até o horário que a entrada grátis permite.
O interior da festa era adornado por um lustre imenso (que ficava apagado),
com uma pista no meio. Nos cantos ficam os camarotes (super caros) e entre eles
algumas mesas altas, redondinhas, pequenas e sem cadeiras, que funcionam como
semi-camarotes. Semi-camarotes porque são caros, mas não possuem o metro
quadrado do camarote em sí (E sim, você fica em pé ao redor daquela mini tábua).
Os caras chegam super cedo, reservam a sua mesa e, ao inves de curtir a festa,
eles ficam lá, sozinhos, quietos, guardando a mesa como um As de Paus.
A galera com quem eu deveria curtir a festa estava empilhada em
volta de uma dessas mesas com um combo (Uma garrafa de whisky e meia duzia de
latas Red Bull). A música era um tunti tunti misturado com um suave blim blim
que é a tal música lounge que toca no início da festa. As pessoas se sacodem
com um copo (que dura por horas) e sorriem excessivamente quando vêem que há um
fotógrafo por perto. Porque, todos devem saber, não há reconhecimento maior
nesse ambiente do que ser vista e fotografada para aparecer no site da festa.
Isso significa que você está arrumada o suficiente para estar lá. Então todo
seu esforço valeu a pena!
Detalhe, todas as pessoas da pista tentavam se acotovelar para
chegar mais perto desses semi-camarotes para parecerem que estavam dispostas a
pagar os quatro ou cinco dígitos necessários para estar lá.
Em volta da mesa em que os amigos da minha amiga estavam tinha uns
cinco caras que levantavam seus copos como troféus e lá pelas tantas um deles
me ofereceu bebida. Foi aí que a minha amiga cochichou “Não pega, depois eles
vão querer dividir a comanda contigo”.
Esse mesmo cara veio conversar comigo. Seu assunto foi basicamente
se apresentar, me oferecer goles de bebida e contar que faculdade fazia. Depois
disso ele supôs que eu, obviamente, ficaria com ele dizendo “tu tem que curtir
a festa comigo” (como se fosse possível curtir aquela festa).
Quando ele percebeu que eu, realmente, não queria ficar com ele, sua
expressão passou a ser a de choque e ele saiu balbuciando algumas palavras
ofensivas. Pensei “Gente, será que ele pensou que só por ter bebidas isso o
tornava um cara interessante? Que absurdo!”.
Mas então olhei ao meu redor e a resposta estava clara como água:
Sim, isso o tornava um cara interessante naquele ambiente.
Para mim festa sempre foi um lugar em que a gente sai para se
divertir. Um lugar onde tocam musicas que a gente sabe cantar e berra nos
ouvidos dos nossos amigos. Onde a gente usa um sapato que nos permita dançar
bastante. Onde a gente se arruma para ficar bonita e não para ser vista pelo
fotógrafo da festa. Onde a gente compra bebida para beber e não para se exibir.
Não é assim que as festas deviam ser? Ainda concordo com o refrão da música que
diz “We just wanna make the world dance, forget about the pricetag”.
As pessoas se preocupam demais em ostentar o que são, ou o que
querem que pensem que elas são e se esquecem de ser elas mesmas, aproveitar o
tempo ao lado de quem elas gostam, de viver e ser feliz.
P.S. Este texto foi escrito com base nas experiências vividas por
mim e pela minha amiga Bibiana Warth na noite *TOP* de Porto Alegre.