Era uma vez
um rapaz e uma moça que tiveram seus caminhos lado a lado por um tempo de suas
vidas, mas que foram se distanciando com o passar dos dias.
Ele seguiu
seu caminho, deixou ela para trás. Já ela jamais o esqueceu, por mais longe que
os caminhos estivessem, ela sentia como se seus corações estivessem lado a lado.
Os anos passaram.
Um belo
dia ela, que por tanto tempo tinha sido feliz com o fantasma da presença dele, acordou
inquieta. E cansada de alimentar seu amor com esperança, pensamentos e fantasias,
marcou um encontro com ele.
O Relógio
corria depressa naquele dia, junto com a ansiedade e um outro sentimento ainda incompreendido
dentro dela.
Depois de
tanto tempo eles se veriam de novo.
Seria tudo
como nos velhos tempos? Seria tudo mais frio? A intimidade que sempre se fez tão
intensa ainda se faria presente? Haveria mais silencio do que diálogos?
Ela
respirou fundo, o coração batia nervoso.
Ele chegou,
sorriu e entrou.
Não houve
silencio, ou desconforto. Praticamente tudo o que sempre existiu ainda ali
permanecia. Menos o essencial, mas isso era apenas um detalhe naquele momento.
O dia
amanheceu.
Ela
despertou e junto dela uma certa inquietação.
À tarde
ele resolveu ir embora. Ela então sentiu o que esteve presente desde o início,
sutil demais para se apresentar com força.
O fim.
Eles se
despediram, ela olhou ele nos olhos e pediu mais um beijo. Lá no fundo agora
ela entendia, aquele seria o último.
Ela foi
para o quarto e chorou. Chorou como há muito tempo não chorava. Não por ele,
mas pela sensação de vazio que havia dentro dela. Era um vazio tão grande, como
se existisse literalmente um buraco do tamanho de uma bola de basquete no peito
dela.
Ela não
entendia o que significava aquela sensação, ela se culpava por ter visto ele,
pois até então as coisas estavam bem.
No outro
dia quando acordou o vazio permanecia ali.
“Como
lidar com isso? ”, ela se perguntava, ela simplesmente não sabia o que fazer
com tanto vazio dentro dela. Era angustiante demais se sentir assim. Não havia
vontade de nada dentro dela.
Ela já não
queria trabalhar, sair de casa, ver pessoas, interagir com o mundo. O vazio a
tomou por inteiro.
Primeiro
ela decidiu apenas aceitar e conviver com aquilo, mas lhe era ruim demais.
Então ela
resolveu preencher aquele vazio de alguma forma.
Ela
procurou os amigos, o carinho deles, o sorriso, os brindes. Não adiantou, pelo contrário,
em certos momentos ela sentia até um certo desconforto em impor a sí mesma uma interação
social que lá no fundo ela não queria.
Ela decidiu,
por fim, preencher o vazio com ela mesma. Mesmo sem vontade ela voltou a fazer
as coisas que ela gostava. Estudar música, ler em cafés, ir ao cinema sozinha,
praticar esportes. Ela se ocupou tanto de si mesma que mal sobrava tempo para
os amigos. Ela se perdoou por isso e resolveu não se obrigar a mais nada. Ela
só saia quando ela realmente queria ver um deles. E os via um de cada vez, aproveitando
ao máximo a cia de quem ela gostava.
E o buraco
aos poucos foi diminuindo até que um dia ela acordou e conseguiu, finalmente,
respirar fundo de novo. Se sentindo inteira, completa e em paz.
E ao
respirar em paz ela entendeu tudo de forma clara e se sentiu realmente feliz
por ter feito aquele convite há meses atrás.
Quando a
gente ama alguém e cultiva sentimentos por esse alguém, esses sentimentos vão
crescendo e ocupam espaços dentro de nós que nem sequer imaginamos. E é quando
dizemos adeus definitivamente que descobrimos, é quando o outro vai embora que
percebemos tamanho do vazio que ele deixou. Por isso que é tão difícil dizer
adeus. Nós temos medo do vazio que ficará dentro do peito e de não sabermos qual
a melhor forma de preenche-lo.
É preciso
coragem para deixar ir.
É preciso
força para seguir em frente.
É preciso completude,
pois só quando se é inteiro se é feliz de verdade.