quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Chuva Fina de Verão...




Eu lia Odes de Ricardo Reis quando tu chegastes.
“Segue teu destino, rega tuas plantas, ama tuas rosas. O resto é a sombra de arvores alheias. A realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos. Só nós somos sempre iguais a nós próprios”
Fechei o livro cuidadosamente marcando a pagina para ler mais tarde e levantei meus olhos para te conhecer. Foi como ver o nascer do sol depois de uma noite fria na beira da praia, quando as garrafas já dormem vazias ao lado da fogueira apagada.
Não há sensação melhor do que a de ser iluminada por um sorriso, quando encontramos alguém com capacidade de fazê-lo. E depois de muitos anos à margem de mim mesma eu te conheci.
A paixão veio como naqueles contos que ninguém acredita, à primeira vista. Fiquei nervosa, minhas mãos tremiam e eu suava frio me perguntando “como pode o toque de alguém arrepiar minha pele”? Mas podia. E o fez.
É engraçado a certeza que nos consome quando estamos apaixonados. Por uns minutos, todos os dias, eu acreditava num pra sempre e ficava a mercê de um final feliz.
Isso é tão errado. Como alguém pode entrar na sua vida varrendo tudo e qualquer outra coisa que existia nela antes e depois ir embora, como se nunca tivesse entrado? Como que tu podes gostar tão profundamente de alguém e não ser recíproco?
Até onde nos deixamos levar pela paixão sem realmente enxergar o que de fato acontece ao nosso redor?
A paixão, não o amor (como muitos pensam), é que cega a gente. Ela invade nosso pensamento e faz com que cada som, cada olhar, cada cheiro te lembre alguém. E como faz quando esse alguém vai embora?
Hoje tu és chuva fina de verão, que cai constantemente durante toda a estação e toca a pele como se estivesse só no pensamento. Eu te sinto, mas não te vejo.  
E volto a regar minhas plantas e amar minhas rosas, enquanto tu és sombra de arvores alheias.
A realidade, por um breve tempo, foi bem mais do que eu quis, mas foi uma realidade feliz.




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