Eu lia Odes
de Ricardo Reis quando tu chegastes.
“Segue teu
destino, rega tuas plantas, ama tuas rosas. O resto é a sombra de arvores
alheias. A realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos. Só nós somos sempre iguais a nós próprios”
Fechei o
livro cuidadosamente marcando a pagina para ler mais tarde e levantei meus
olhos para te conhecer. Foi como ver o nascer do sol depois de uma noite fria na beira da
praia, quando as garrafas já dormem vazias ao lado da fogueira apagada.
Não há
sensação melhor do que a de ser iluminada por um sorriso, quando encontramos
alguém com capacidade de fazê-lo. E depois de muitos anos à margem de mim mesma
eu te conheci.
A paixão
veio como naqueles contos que ninguém acredita, à primeira vista. Fiquei
nervosa, minhas mãos tremiam e eu suava frio me perguntando “como pode o toque
de alguém arrepiar minha pele”? Mas podia. E o fez.
É engraçado
a certeza que nos consome quando estamos apaixonados. Por uns minutos, todos os
dias, eu acreditava num pra sempre e ficava a mercê de um final feliz.
Isso é tão
errado. Como alguém pode entrar na sua vida varrendo tudo e qualquer outra
coisa que existia nela antes e depois ir embora, como se nunca tivesse entrado?
Como que tu podes gostar tão profundamente de alguém e não ser recíproco?
Até onde
nos deixamos levar pela paixão sem realmente enxergar o que de fato acontece ao
nosso redor?
A paixão,
não o amor (como muitos pensam), é que cega a gente. Ela invade nosso pensamento
e faz com que cada som, cada olhar, cada cheiro te lembre alguém. E como faz
quando esse alguém vai embora?
Hoje tu és
chuva fina de verão, que cai constantemente durante toda a estação e toca a pele como se estivesse só no pensamento. Eu
te sinto, mas não te vejo.
E volto a
regar minhas plantas e amar minhas rosas, enquanto tu és sombra de arvores
alheias.
A realidade,
por um breve tempo, foi bem mais do que eu quis, mas foi uma realidade feliz.
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